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9 de novembro de 2011

Miles Davis - Kind Of Blue (1959)

Texto de Contracapa de King of Blue. Existe uma arte visual japonesa na qual o artista é obrigado a ser espontâneo. Com um pincel especial e tinta preta, ele deve pintar sobre um fino pergaminho esticado, de tal maneira que uma pincelada não natural ou interrompida virá a destruir a linha ou romper o pergaminho. Apagar ou fazer modificações é impossível. Tais artistas devem praticar um tipo especial de disciplina, que permite que a idéia se expresse na comunicação com as mãos de modo tão direto que o pensamento não interfira.

Os quadros que resultam não possuem a composição complexa e as texturas da pintura usual, mas diz-se que aqueles que olham bem encontram algo capturado ali que desafia explicações.

Acredito que essa mesma convicção, de que a ação direta constitui a reflexão mais significativa, impulsionou a evolução das disciplinas extremamente severas e únicas do jazzista ou do músico improvisador.

A improvisação em grupo coloca um desafio a mais. À parte o problema técnico de pensar coletivamente de modo coerente, existe a necessidade muito humana, social até, de que a simpatia por parte de todos os integrantes se coadune em prol de um resultado comum. Penso que esse difícil problema é lindamente abordado e solucionado nesta gravação.

Assim como o pintor precisa do referencial da tela, o grupo de improvisação musical precisa de um referencial no tempo. Miles Davis apresenta aqui referenciais que são de suma simplicidade, e contudo encerram tudo aquilo que é necessário para estimular a execução, preservando a referência à concepção inicial.

Miles concebeu esses esquemas apenas algumas horas antes das sessões de gravação, e chegou com esboços que indicavam ao grupo o que deveria ser tocado. Portanto, nestas execuções você irá escutar algo que está próximo da pura espontaneidade. O grupo nunca havia tocado estas peças antes da gravação, e creio que, sem exceção, a primeira interpretação completa de cada uma foi tomada como um "take".

Embora não seja incomum esperar que o músico de jazz improvise sobre material novo numa sessão de gravação, o caráter destas peças coloca um desafio especial.

De maneira breve, o caráter formal dos cinco esquemas é o seguinte:

So What é uma figura simples, baseada em 16 compassos numa escala, 8 em outra e mais 8 na primeira, após de uma introdução de caráter ritmicamente livre com piano e contrabaixo. Freddie Freeloader é uma forma de blues de 12 compassos que ganha uma personalidade nova através de uma efetiva simplicidade melódica e rítmica. Blue in Green é uma forma circular de 10 compassos, que se segue a uma introdução de 4 compassos, e que é tocada pelos solistas com diversos aumentos e dimuinuições dos valores temporais. Flamenco Sketches é uma forma de blues de 12 compassos em 6/8, que gera seu clima através de umas poucas mudanças modais e da concepção melódica livre de Miles Davis. All Blues é uma série de cinco escalas, cada uma podendo ser tocada pelo solista durante o tempo que ele desejar, até que tenha completado a série.

Músicos:

Miles Davis – Trumpet, Band Leader
Julian “Cannonball” Adderley – Alto Saxophone, except on “Blue in Green”
Paul ChamBers – Double Bass
Jimmy Cobb – Drums
John Coltrane – Tenor Saxophone
Bill Evans – Piano (except “Freddie Freeloader”) Liner Notes
Wynton Kelly – Piano on “Freddie Freeloader”
 Tracklisting:

01. So What - 9:22
02. Freddie Freeloader - 9:46
03. Blue in Green - 5:37
04. All Blues - 11:33
05. Flamenco Sketches - 9:26
06. Flamenco Sketches (Alternate Take) (Faixa Bônus) - 9:32

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